quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Estou quase escrevendo de novo.
Pelas paredes que caem devagar.
Pelo meu país que está estúpido.
Pelas minhas mãos que agora
Teimam em queimar.
Pelos meus precipícios
Que cavam a si.
Pelas minhocas,
Cavando esbarrando errando.
Estou quase escrevendo de novo.

sábado, 1 de julho de 2017

relato do mês sete, dia um

vários tipos de encantos me rodearam:

olhos e  pés dançando
um bando de pássaros voando por cima de mim
acompanhar um menino imitando um bem te vi
ajudar uma senhora na rua e receber um abraço
dançar automaticamente com uma pessoa
fechar os olhos e continuar enxergando
descer rampas sem freio
não cair

quinta-feira, 22 de junho de 2017

Cuidado ao olhar para os lados.
Uma coisa com um formato familiar pode querer te comer.

Na verdade.

Algo já te come por dentro há muito tempo.

Subitamente orientados pela abjeção a abismos,
Sempre estivemos em um.
Caindo.

Com as pálpebras danificadas.
Tentando enxergar de olhos fechados.

quarta-feira, 21 de junho de 2017

MerciMaré

Respira.
Respira.
Olha o mar.

Não tem porque cessar
Agora.
Ancorar em locais proibidos,
Fora de margens estreitas.
Difícil entrar,
Mais difícil sair.

Ainda bem que aprendi a nadar.

Fugir de correntes desconhecidas.
Encostar o pé no chão.
Areia.
Amarela, branca, vermelha.
Barro de lagoa nas unhas.

E pra sempre ter água por dentro.
E por fora.
Secando, enchendo,
Que nem maré.

Respira.
Respira.
Olha pra dentro.

Primeiro entender suas marés.
Pra depois pular
De suas pontes.

sexta-feira, 9 de junho de 2017

a volúpia agora é matéria monetária
e pouco importa quantas morrem
quantas caem

os famintos de brutalidade
atacam por trás e comem até a pele
nada resta se não mais um descaso

portas e janelas batem com força
enquanto a lua cresce com medo
na rua escura histórias se repetem

morrer morrer morrer morrer
a sede dos que acham que são maiores
acaba sugando nosso suor e sangue


quinta-feira, 8 de junho de 2017

dancei durante três horas debaixo da minha mangueira preferida
carros e motos passavam pela estrada ao lado separada apenas
por uma cerca de arame farpado que brilhantemente atuava
como linha tênue enquanto eu dançava debaixo da minha mangueira
os carrapatos e bichos de pé as minhocas e os cachorros
todos eles assistiam minha dança desgovernada
o cheiro de feijão que passava pelos tijolos machucados
anunciava que gritos viriam por aí chamando seu fernando
que antes de pegar faca chapéu e água pra entrar na mata
fazia questão de acordar junto com o sol pra tomar café com ele
perto da estrada existiam duas mangueiras maiores que a casa
quando eu subia na maior delas eu podia ver uma lagoa
a lagoa ficava no final da estrada que os carros e motos passavam
as paredes da estrada eram feitas de muita mata verde
quando não existia barulho de motor dava pra ouvir as histórias dos bichos
um dia eu tava sentada lá na cabeça da árvore e o céu começou a chorar
foi a coisa mais bonita que vi e quando eu fechava os olhos
conseguia ouvir o barulho das gotas rasgando a água da lagoa
nesse dia eu me senti bicho da natureza e comecei a existir

sexta-feira, 12 de maio de 2017

um dia a gente inventa
um nome novo
ou uma nova utilidade
pras cores do amanhecer

quando não tem preocupação
com o número do tempo
se esquece do que aperta o nó

os grãos de areia que ficam
em nós marcam a lembrança
escondidos entre os dedos
e dentro da orelha

eles se apropriam de nós
pra gente poder lembrar

não

não me atrevo
não me atrevo
a dizer só

pra gente poder lembrar
da leveza de sair de dentro de si

quinta-feira, 4 de maio de 2017

todo poema que
agora
começa reclamando
no final
sem
perceber
se transforma
em um poema
de amor
um poema de amor


respirar

antes de tudo um pé depois do outro
a difícil tarefa de se concentrar na respiração
pra não ter que descompassar os pés
e a vida

respirar



quinta-feira, 16 de março de 2017

eu não sei dançar
mas meus olhos
meus olhos dançam
eu não sei dançar
mas quando
tua retina alcança a minha
meus olhos dançam
eu não sei dançar
mas meus olhos dançam
quando tua retina
alcança a minha
meus olhos dançam
mas eu não sei dançar
em um dia de chuva um caramujo anda com cuidado
seu enorme mundo se enche de grandes pedaços de água
como são animais obcecados por coisas em ordem
todos os ângulos dos desvios são pensados muitas vezes
a consciência dele gira setenta vezes enquanto isso
do outro lado de uma pedra despretensiosamente
duas minhocas passam quase uma por cima da outra
seus possíveis pares de coração continuam normalmente
nem separadas por apenas grãos de terra deixam escapar o sutil
a pedra que tudo vê e nada fala nada sente
na continuidade do dia a chuva deixou de acontecer
curiosa com o descaso com o acaso das minhocas
tratou de voltar mais depressa que o rio quando vê o mar
o êxtase é instantâneo quando a realidade é a vontade
o caramujo passou por cima da pedra e caiu perto das minhocas
com o peso menor que sua existência juntou as minhocas
até a pedra que não falava conseguiu gritar naquele momento
junto com a soltura do grito começou a sentir
quase que saia andando se não fosse contrário do seu ser
como a gente que quase voa quando ama
as minhocas que carregam mais corações que nós
sabem bem que não olhar pra trás muitas vezes é o que impede de ir
pela paralisação causada pelo momento
esqueceram de agradecer o caramujo
que já ia lá na frente reclamando baixo por mais um desvio

terça-feira, 14 de março de 2017

o princípio não fala
mas anda
e eu
no ritmo dele
fui


foram inúmeras as contrações antes do momento parir o princípio
por não haver aviso prévio despreparada me flagrei depois do começo
já era tarde pra querer alguma coisa que não fosse aquilo prolongado

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

voar voar cair cair

os labirintos se derreteram
e do líquido que restou
moldaram-se nós 
na beira de um rio
o ponto de partida 
da existência atual
foi o fim de algo extraordinário
acometido por alguns desastres
bem peculiares que hoje
se acanham na nossa nuca
a estratégia adotada
pelos seres água 
é ir junto com tudo
pra onde ninguém sabe
durante o caminho 
pisando em tudo que dói
e em tudo que cura o que dói
a cabeça do que se formou 
entra em uma dança sem par
sem chão, sem parede, sem céu
sem fim, sem começo e
de volta ao labirinto 
a vontade de derreter entra
em suma a contemplação 
do passado que era começo
aperta lá dentro 
e a gente percebe
que mesmo depois de muito rio
muito mar, muito lago
o nosso molde é o mesmo
nós somos todos conjuntos 
individuais de nada
feitos da mesma matéria
do mesmo passado
na mesma beira de rio
depois do mesmo fim
e vamos todos virar
o mesmo amontoado
de resto

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

taquicardia da porra
estremeceu
do joelho pra baixo
parou as atividades
gerais da cabeça
trinta segundos
pensando na tua voz
chega a hora
do encontro das bocas

taquicardia da porra
Pedaços de mim anunciam por aí
Que talvez seja a bendita hora.
Descontraído momento disposto
A contrariar todo pensamento.
Tal brisa que entra durante
Os segundos perdidos,
Pelas janelas abertas,
Pelas portas esquecidas,
Pelas feridas secas.
Jamais nos tempos seguintes
Será esquecida sua beleza.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

fui de mal
a bem
pior
por tentar
resgatar
algo maior
que eu
tentei
tentei
tentei até
demais
pensar
que era
fácil
ver o que
se poe
atrás de nós
que somos
dois
não
um
e assim
se vai
sem mais
nem cais
com paz
calma e
fui mal
a bem
a bem

melhor

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

quando mergulho
quando mergulho fundo
é pra buscar os pedaços
os pedaços de tempo dormentes
tempos dormentes que me sustentam
quando volto, se volto
é pra salvar alguém que se afoga
que se afoga na beira de si
na beira de si que é maior que o mundo
e o mundo é bem pequeno
bem pequeno do tamanho do buraco
do buraco de uma minhoca que adora
que adora mergulhar na terra
mergulhar na terra pra buscar seus pedaços
seus pedaços de tempos também dormentes

domingo, 22 de janeiro de 2017

pelos muros da cidade escreveram teu nome meu nome o nome e os desejos dos que não pensam só em si absorvidos pelo concreto os sentimentos foram compartilhados com os que isolados foram por muros cadeiras e gravatas agora acinzentados a mandato de quem mata e veta a vontade dos que sustentam nos joelhos as cores da bandeira qual a culpa que carrega quem usa uma lata? uma tinta?
e de quem mata? e rouba milhões? a balança tá quebrada faz é tempo tão escrevendo na poeira branca que tá se formando democracia com a ponte dos dedos pra depois sentir o cheiro

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

hoje eu cacei a lua dentro da cidade
que contra sua vontade era tapada pelos prédios
hoje eu cacei a lua dentro da cidade
tentei por sete janelas de dois ônibus diferentes
hoje eu cacei a lua dentro da cidade
quando tiver cabelo branco quero vê-la da rede
hoje eu cacei a lua dentro da cidade
porque ainda tenho alguma força pra tentar

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017