quinta-feira, 21 de abril de 2016

tenho que arrancar minhas próprias unhas
os cortes verticais que sangram em mim fui eu
não há culpa de fora quando dentro tá caótico
por fora é gesso e ouro e por dentro são só restos de pó
há quem passe um pano e finja que tudo está ótimo
mas quando um tropeço aparece no meio da rua
não sabe o que fazer e acaba por perder o voo
se estrambulha todo no chão e é pó pra todo lado
o vento leva como se fosse dele
mas é bonito de se ver
os raios
os restos

segunda-feira, 18 de abril de 2016

eu, me poupe
não quero reticências
mas punho do amor quebrou
as águas jorraram com força
o osso maior se quebrou

eu, me poupe
cansei de andar
mas não consigo respirar aqui
abafou tudo em cima da areia
tu foi pra tão longe que não te vi

eu, me poupe
enjoei desse cheiro
mas meus olhos se acostumaram
as articulações estão enferrujadas
os livros da estante acabaram

eu, me poupe
caí de cara na lama
mas os lamentos acabaram
com roupas velhas fui embora
e nunca mais me poupei de nada

domingo, 17 de abril de 2016

posso fazer chover
na palma da tua mão
basta olhar pra mim
sem escorregar no não
e se tu tiver com frio
eu mudo de ideia

o céu tá limpo mas
a cidade tá lotada de buzinas
e eu vi tua bike presa na esquina
então espero meu ônibus
esperando tu passar
pra salvar o dia com o olhar

o álcool te faz apontar pras estrelas
e gritar o nome de cada uma
bonito mesmo é ver tu sem palavras
quando aponta pra lua
profano teus sonhos inacabados
e teus dedos na areia são um filme

a intensidade é cabível a nós
nada foge das nossas entrelinhas
no final do dia quando deito
tenho infinitos na testa
dançando sobre minhas sobrancelhas
e abafando tudo que detesto