quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Acho curiosa sua questão de querer parecer um ser inverso ao meu.
Visto que nós investimos mais nas nossas fraquezas, suponho que seja uma delas.
É inevitável a contravenção dos quereres já nascidos há anos.
As peles que nunca se encontraram se repelem como polos comuns.
A coisa que deveria unir certo ponto corta como a única coisa que pode separar.
E separa.
Depois da queda infinitamente lenta há ainda um lamento escondido na escada.
O esperar torna-se a mais bela obra da idiotice criada dentro de si.
A que ponto chegamos?
Evitar a propagação de pensamentos para não querer. Mais.
O controle está escondido num sofá que nunca vimos.
A corda bamba das tuas indecisões tem um tom agudo não escolhido por ti.

De fato a cegueira metafórica é uma doença que atinge a massa que ama. 

terça-feira, 18 de outubro de 2016

a mulher que te pariu
morreu pra tu tá aqui
tu aponta o dedo
na cara de quem tem medo?

há sangue vermelho escuro
brotando de um matagal escondido
quantos bichos se mostram
com a máscara de pai?

em cada canto de vento
uma dama fuma um cigarro
acorrentada ao destino
pra que esperar o ultimo escarro?

hoje tu nem olha pra trás
teu rabo tá na mira do diabo
teu filho lambe de quatro a cruz
em que pecado caiu tua fé?

em nome dos desalentos
creio no pagamento de dividas terrestres
que cada estaca se reverta em mil estacas
e por que ter pena de quem matou uma ou mil mulheres?

por vidros e pedras
em chamas
no travesseiro
dos que ousam
levantar a mão
pra nós.

Hoje me agarrei com a insônia madrugada 
como quem se agarra com a mãe 
depois de uma partida inesperada.
As teclas dos teclados pareciam abismos 
e o papel inexplicavelmente 
tinha o reflexo do meu rosto aquarelado nele.
Talvez eu estivesse muito insatisfeita 
com o meu dia e com uma não presença. 
Tento sentir atração pela cama limpa 
e os lençóis espalhados 
mas tem um pássaro na minha cabeça. 
Voando. Sem parar. Gritando. Sem parar.
Acho bonito.
A melodia da falta de saber o que fazer 
tem sua parcela de necessidade.
A culpa, que também é um bicho, 
devia entrar em hibernação 
quando passamos a correr atrás da gente mesmo. 
Mas não. Ela fica voando.
Sem parar. Gritando. Sem parar.
Me perco ridiculamente.
Nem em todas as noites e dias 
que moram dentro da madrugada 
possuem horas necessárias para entender 
porque o bicho nós tenta entender. Sem voar.

Se parar. Gritando. Sem parar.  
Hoje uma criança perguntou pra mãe dentro do ônibus como o motorista descia se ele abria e fechava a porta por dentro. Depois ele perguntou se as formigas dormiam com quem gostavam e em seguida quanto tempo faltava pra eles chegarem em casa.


Enquanto uma criança sai da casca 
Um beija flor faz seu ninho.
Quando o filhote de beijar flor 
Tá aprendendo a voar
Ele encontra o chão vinte e seis vezes por dia.
Ali tá o princípio do amanhecer.
No sair da concha
E no encontrar o chão antes de voar.  



Poesia matinal:


Eu saio cantando do banheiro 
e tu ri pra mim.

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Glória a ode
Ao final feliz
Que não existe
Andaremos em merda
Misturada com o nosso sangue
Enquanto os partidários
Lambem cus melados de pó de ouro
A fome de esperança
Será a única extinta


enchente

Eu nada tinha em mãos,


a não ser a ponta dos teus cabelos.

domingo, 9 de outubro de 2016

II.


(coisa número dois)


movimento de rotação do planeta
é alterado dependendo da direção
das tuas mãos nas minhas costas
não há porque duvidar da dúvida
que sempre esteve ali
enquanto o frio bagunça nossos ossos
conseguimos ver a lua em cima das nossas cabeças
perder a única saída por alguns minutos
se tornou a prévia de despedidas
a soma de barulhos e pessoas é nula
quando lábios se encontram
depois que te viram

meus olhos aprenderam a falar