terça-feira, 31 de março de 2015

Ah, subir na árvore
Se estripar no chão
Dizer que o amor acabou
Olhar pra vizinha
Sentir vontade de vomitar
Pegar o ônibus e ver todas
Aquelas belas amarelas e verdes
Pernas que não param não param
Colocar uma máscara igual a tantas
Outras e não ser reconhecido
E não amar
A máquina maqueia qualquer face,
face a minha, face a tua, face
a nossa, aquela face enrugada,
a face que não ama, a face
que ninguém vê e alface
No meio do caminho tinha um corpo
Um corpo sem nome, sem chapéu
Com óculos e bigode
Meio torto, parecia só
A perícia nem ousou abrir o corpo
Caso conhecido
- Ele era um poeta
No atestado em letras pretas
Pequenas a causa:
Morreu de melancolia
No plantão do instituto
Um puto patético carregava
Certo caderno de anotações
E sem saber
Iriar morrer das mesmas causas

domingo, 22 de março de 2015

quero sentar numa praça
sem ter medo do que há atrás de mim
 pau, pedra ou cálice
tudo fazem por um sim

nas esquinas da cidade
há muito de mim
e no chão do hospital
meu irmão espera por um rim

o filho da vizinha não estuda
pois tem que trabalhar
enquanto a mãe lava uma roupa
que, se quer, não vai usar

pelo calçadão no domingo
percebe-se quem é quem
pra onde o rico vai
de onde o pobre vem

motorista tem medo de pegar gente
que mora ao lado dele
pois quando sai de casa
esquece de onde veio

universidades fecham as portas
é o triste ciclo caotico
ficando robótico, CIStmático e falho
adiando o fim do que nos castra

pra usar banheiro é preciso uma lei
pois há doutores
há doutores ditando
achando que sabem quem somos

sinal fechado é motivo de medo
e ônibus lotado é sinônimo de atraso
da moça, antes uma hora e meia andando
do que homem a tocando

o patrão reclama, a avó não entende
o filho dorme com medo
mas ninguém sabe do pai
todos culpam a mãe

a morte é disfarçada, acreditem,
com guerra e proíbem uma droga
pra vender outra que é mais fatal
mas o lucro é legal

o cachorro late e eles o calam
com a morte, o sangue que escorre
logo é lavado, televisionado
e esquecido

sábado, 21 de março de 2015

Há especialistas em mudar frases feitas e em nomear coisas e causas inexistentes.
A solução se detém aos ganhos e percebo que olhar para o outro só é permitido fora do horário de pico (e de um automóvel). Pequenas doses de ventos do congresso batem diariamente nos que comandam e os mesmos não permitem mais o que não querem. Comer planta é coisa de doido e matar é normal. Fatos vermelhos e assassinos são expostos em propagandas anunciando a próxima novela. Os ratos sabem ler e os ladrões esqueceram quem são. Não se preocupem. Há substitutos, politizados.
Pessoas numa praça passam a ser motivo de confronto e viadutos são mais importantes que vidas.
Ser é um ato de coragem e permanecer... Permanecer passa a ser dúvida.

sexta-feira, 20 de março de 2015

Em tudo que vai
O que se esvai
Permanece ali
Terminar com i
Aqui
Ali
Sim, eu ri
Ontem eu li
Que um javali
Facilitara rimas pobres
Poemas com cintura fina
E com proposito

quinta-feira, 12 de março de 2015

d.o.m

num banco mordido pelo vento
dois pontos distintos de idades
se olham bem tortinho
o que tu que ser
quero ser eletricista
podes ser o que quiser
o que quiser
o que quiser
por exemplo qualquer coisinha
até estrela
estrela tá lá longe
estrela é só reflexo
parece um monte de cabeça
vai ver o céu é espelho
espelho de onde
o que eu escolhi ser
me torna inutil pra saber isso
o que tu quer ser
posso ser reflexo
reflexo de que
o que eu escolhi ser
me torna inutil pra saber isso
o que tu quer ser
quero ser fazedor de algo
algo bom ou algo ruim
coisa peculiar na vida de um passarinho
e na nossa também
e perto daquela mordida do vento
e daquele ferro preto que marca minha roupa
declarou que quer ser fazedora de vento

sábado, 7 de março de 2015

na unica hora livre de seus dias
senhoras descalças com mão unidas
colam as palpebras em busca
do futuro branco preferido por deus

as duas faces da lâmina sob a mesa
entregam sob reflexo todo o preterito
dores imerças na água fervendo com batatas
não são mostradas no livro de receitas

nas linhas firmes amarradas entre casas
pedaços de panos quase sem fios são expostos
ali, nomes cintificos para o amor atropelado
se confundem soberbamente com o amaciante barato

as crianças não andam mais de bicicleta
porque não sabem andar de bicicleta
sabem com quantas balas se mata alguém
mas médico é diabético, o engenhiro também....

quando a bola amarela sobe no breu
o país para, os pais se calam
as crianças somem, porém a bola ainda não desceu
devemos continuar

o cego tropeça no meio fio o comerciante reclama
a freira reza o ocupado passa
mas não vai muito adiante
tropeça em um inteiro fio enfeitado

o vapor que sai da panela...
a ferida do joelho...
no esconderijo da arma...
o país para os pais se calam

quinta-feira, 5 de março de 2015

"d" de hoje

escrevo assim mesmo
sem muito saber pra onde vai
após o ultimo métrico
deposito meu desejo em sentimentos
a ordem pode vir a importar
mas não quero ter que ligar
para outro lugar por questões
de pró nomes
o tempo se foi sozinho
nada o segurou
passou por mim e por vós
e ninguém o acrescentou um acento
o lamento do poeta virginiano
fica destacado na ultima folha do edital
a cidade tão grande não o cede letras grandes
nem lenços umedecidos que são feitos lá
bem em cima do lugar que sonhara
no final quase tudo bola no esquecimento
só os desiludidos e poetas
que ficam com a ultima ponta de poesia
no meio de toda essa ressaca
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