sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

entre três estrelas eu me pergunto como vim parar aqui
durante algumas navegações pude ver que a força da maré distingue a velocidade
- por tanto o tempo-
da viagem e com isso é impossível prever abraços

abraços tu
abracos eu

abraços que entrelaçados sem razão e por vontade
insistem e temer a verdade de cor bonita
cor que acalma e diz que tudo que aconteceu tinha que acontecer e que por este motivo estamos aqui
abraços que falam sem que haja um chamado sem que haja um passado
sem que haja uma espécie de busca ou necessidade

domingo, 8 de dezembro de 2019

a pele cai, a pele escapa
ela fere e ultrapassa
resseca e depois revive
com marcas, explosões
cada camada tem seu álibi
para exercer totais tudo
e excessivamente nada

segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

o menino acorda com grito
atravessa avenida
corre dos tiros
escuta xingamentos
- tudo isso pra chegar na escola..
compra xilito
tá sem lápis, caderno
mas quer estudar
no intervalo pergunta
- tia, deus sabe que eu existo?
acabou a aula
passa na praça
joga bola tira a blusa
aprende a dançar
- espero que minha mãe não veja
chega em casa pede a bença
pergunta o que tem pra jantar
carne arroz feijão e ainda tem dindim
pega o celular pra jogar
- já a mãe me manda dormir
o menino acorda com grito
atravessa a avenida

domingo, 1 de dezembro de 2019

cresce que nem raiz das mangueira lá do sítio

aprendi a guardar fragmentos nos formigueiros
pra eu poder ter motivo pra voltar depois da chuva
é importante meter a mão até o ombro
na tentativa de resgatar  memória
quando todo mundo da minha família fazia isso
era sagrado o cochilo no alpendre de vó
aprendi a catar coisa boa no mato
enquanto pegava bicho de pé
e corria atrás dos lagartos

o rolamento da vida mora na lagoa
que fica por trás do sítio
às vezes durante a noite a gente ouvia
alguém futricar nas águas
metade ficava com medo
a outra queria ir futricar também
na dúvida um cigarro era aceso
respeitando o sono dos maribondos
e a conversas dos sapos