terça-feira, 9 de agosto de 2016

Eu descobri o que quero fazer da vida. Abraçar as pessoas.
Como assim abraçar as pessoas?
Abraçar as pessoas. Abraçar. Pessoas.
E tu quer ganhar dinheiro com isso? Abraçando? Pessoas?
Parece idiota pra tu, né?
Por que eu iria querer um desconhecido me abraçando?
Tu negaria o abraço de um desconhecido em uma tragédia?
Mas.... Tu iria ter que esperar as tragédias acontecerem?
Elas acontecem o tempo todo, Marcelo.
Sim, mas... Tu então quer sobreviver de tragédias?
Não, eu quero abraçar pessoas. Esquece as tragédias. Péssimo exemplo.
Esqueci que há dois meses não conseguimos conversar.
Esquece as tragédias, Marcelo...
Essa não tem como esquecer.
Eu sei que não. Podemos andar de mãos dadas um pouco?
(...)
Teus dedos tem meu formato de dedos favorito.
Isso é sério?
É. Esqueci que tu não entende meus elogios.
Eu sempre penso que pode ser algum tipo de piada.
Tu não gosta das minhas piadas?
Só quando são engraçadas.
(...)
Ei, sobre os abraços.
O que?
Eu quero um.
Tu tá me pedindo um abraço?
Tô.
A gente pode andar um pouco assim agora.
Mas, nossos corpos estão muito, muito tortos.

Eu tô confortável.

segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Naquele dia teus olhos me disseram que exatamente ali havia um princípio. Eu não conseguia olhar pra outro lugar por muito tempo, eu não conseguia evitar olhar pros teus olhos e quando olhava demorava mais minutos do que o normal para perceber que a realidade era fora dali. Cada coisa daquele parque estava em seu lugar. As folhas secas que ainda não haviam caído e que estavam muito bem penduradas apesar de.... Secas. A fonte que na superfície é estática, mas que há vida dentro dela. As notas fiscais que estranhos receberam, provavelmente nem leram e jogaram no chão. Os bancos recém restaurados, verdes e feitos para uma pessoa sentar e escrever enquanto a outra deita e fica olhando a que tá sentada escrevendo sem deixar que ela perceba. O chão é convidativo pra andar descalço e quando a vista aponta pra cima o verde, o azul e os traços dos galhos formam uma textura que eu consigo sentir na barriga. Até o vento que passa e muitas vezes a gente não percebe fez questão de ser personagem durante toda a cena. Aliás, sempre que divido a vida contigo eu entro em um palco. Com chão de madeira bem envernizada e poltronas vermelhas. O teatro sempre tá vazio, mas a gente parece se divertir mais do que qualquer público. E artista. Juntos.