Naquele dia teus olhos me disseram que exatamente ali havia
um princípio. Eu não conseguia olhar pra outro lugar por muito tempo, eu não
conseguia evitar olhar pros teus olhos e quando olhava demorava mais minutos do
que o normal para perceber que a realidade era fora dali. Cada coisa daquele
parque estava em seu lugar. As folhas secas que ainda não haviam caído e que
estavam muito bem penduradas apesar de.... Secas. A fonte que na superfície é
estática, mas que há vida dentro dela. As notas fiscais que estranhos receberam,
provavelmente nem leram e jogaram no chão. Os bancos recém restaurados, verdes
e feitos para uma pessoa sentar e escrever enquanto a outra deita e fica
olhando a que tá sentada escrevendo sem deixar que ela perceba. O chão é
convidativo pra andar descalço e quando a vista aponta pra cima o verde, o azul
e os traços dos galhos formam uma textura que eu consigo sentir na barriga. Até
o vento que passa e muitas vezes a gente não percebe fez questão de ser personagem
durante toda a cena. Aliás, sempre que divido a vida contigo eu entro em um
palco. Com chão de madeira bem envernizada e poltronas vermelhas. O teatro
sempre tá vazio, mas a gente parece se divertir mais do que qualquer público. E
artista. Juntos.
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