sábado, 30 de janeiro de 2016

isto não é um poema

ironia
sinédoque
disfemismo
oximoro
personificação
prosopopeia
anadiplose
catacrese
antonomásia
epizêuxis
circunlóquio
zeugma
aliteração
ironia
ora bolas
noves fora
caso a dentro
noite a fora
te vejo lenta
caio torta
desalento
pensamento
riso fluido
esquecimento

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

no meu ombro tem uma pedra
tem uma pedra no meu ombro
tem uma pedra
no meu ombro tem uma pedra
barreira invisível de escárnios
contraponto infalível
tentativa repentina de voar
cair
amortecido pela rede de invenções
peculiaridades em transe
tentativa repentina de voar
cair
abjeto fluido caindo aos pedaços
amontoados de eu queria
tentativa repentina de não cair
voar

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Eu tenho uma pedra no meu ombro direito.
Ela é bonita.
Quando um raio de sol bate em algum lugar dentro dela o reflexo é caleidoscópico e mesmo sabendo do grande risco de adquirir cegueira permanente eu a observo como se nada mais fosse capaz de me causar dormência.
Olhando pro chão outro dia alguém veio com uma ferramenta que não sei o nome, tentando arrancar a ponta da minha pedra. A pedra entrou no meu tecido muscular e acabou se alojando mais, a dor fina que subiu pela minha espinha faz meus pensamentos arderem até agora.
O que muitas pessoas não entendem é que eu gosto da minha pedra.
Que quando jogam palavras em cima de mim é a minha pedra que barra.
Que quando a merda tá sendo rebatida dum lado pro outro é a minha pedra que impede que eu me suje.

domingo, 3 de janeiro de 2016

nos momentos de insanidade ainda lembro de você
escorrem pelo tempo os centavos de ilusão jogados fora
que deixamos escapar ao olharmos para algo fixo
aquele ponto desejado que não nos cabia a busca
acabou sendo um imã e pontas de facas vieram sob nós
não vim aqui falar de joelhos fodidos porque todos sabem
que nas dobras extremas a pancada é mais forte
meus olhos juntos com meus pensamentos estão secos
a luz do sol que tenta entrar é barrada pelo meu cabelo que cresce
- o mar é o ponto de fuga
e este fim é um momento de insanidade

sábado, 5 de dezembro de 2015

em meio a tanta vontade de fuga
me proponho a cair
o que dou aos que dão querendo algo
é meu vômito sagrado
com todas minhas tripas mofadas
e um líquido que não tem mais cor
as dores se transformaram em algo
que me faz gozar sempre que fico só
nem o respirar é mais algo natural
as influências emocionais entortam
linhas que adormeciam num leito profano
profano
no meio da queda me deparo com o
resto das linhas e me lambuzo
em mais uma tentativa doce de me lucidar

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

cada um com seus abismos
abismados decaídos no fim de noite
afortunado um corpo adormeceu
antes de toda a merda ser processada
intercaladas fugas imersas em solidão
salientam cada vez mais as cicatrizes
que boiam na pele e causam enjôo
o encontro do crânio com a pedra
o toque da cabeça dos dedos
o olhar que apavora
os abismos insistem em ficar profundos
sempre que o corpo se arrisca

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

terça-feira, 31 de março de 2015

Ah, subir na árvore
Se estripar no chão
Dizer que o amor acabou
Olhar pra vizinha
Sentir vontade de vomitar
Pegar o ônibus e ver todas
Aquelas belas amarelas e verdes
Pernas que não param não param
Colocar uma máscara igual a tantas
Outras e não ser reconhecido
E não amar
A máquina maqueia qualquer face,
face a minha, face a tua, face
a nossa, aquela face enrugada,
a face que não ama, a face
que ninguém vê e alface
No meio do caminho tinha um corpo
Um corpo sem nome, sem chapéu
Com óculos e bigode
Meio torto, parecia só
A perícia nem ousou abrir o corpo
Caso conhecido
- Ele era um poeta
No atestado em letras pretas
Pequenas a causa:
Morreu de melancolia
No plantão do instituto
Um puto patético carregava
Certo caderno de anotações
E sem saber
Iriar morrer das mesmas causas

domingo, 22 de março de 2015

quero sentar numa praça
sem ter medo do que há atrás de mim
 pau, pedra ou cálice
tudo fazem por um sim

nas esquinas da cidade
há muito de mim
e no chão do hospital
meu irmão espera por um rim

o filho da vizinha não estuda
pois tem que trabalhar
enquanto a mãe lava uma roupa
que, se quer, não vai usar

pelo calçadão no domingo
percebe-se quem é quem
pra onde o rico vai
de onde o pobre vem

motorista tem medo de pegar gente
que mora ao lado dele
pois quando sai de casa
esquece de onde veio

universidades fecham as portas
é o triste ciclo caotico
ficando robótico, CIStmático e falho
adiando o fim do que nos castra

pra usar banheiro é preciso uma lei
pois há doutores
há doutores ditando
achando que sabem quem somos

sinal fechado é motivo de medo
e ônibus lotado é sinônimo de atraso
da moça, antes uma hora e meia andando
do que homem a tocando

o patrão reclama, a avó não entende
o filho dorme com medo
mas ninguém sabe do pai
todos culpam a mãe

a morte é disfarçada, acreditem,
com guerra e proíbem uma droga
pra vender outra que é mais fatal
mas o lucro é legal

o cachorro late e eles o calam
com a morte, o sangue que escorre
logo é lavado, televisionado
e esquecido