quarta-feira, 28 de setembro de 2016

- fortaleza munamú -

I.

Em cada intervalo de pontes
Há emaranhados de pensamentos
Que estagnados sob o sol
Fervem a cabeça até sumir
Nos grãos de areias
Lembranças dos atritos de pele
Que ali um dia aconteceram

II.

No universo sob a copa das tuas árvores
Um dia me descobri eu gigante
Aprendi a linguagem dos peixes da fonte
Das lagartas e formigas debaixo dos bancos
Da pessoa que por dentro é carnaval
E da minha

III.

São entranhas com cinza dominante
Que possuem quase mais cor que o amor
Nas esquinas tombos de desconhecidos
Perpetuados por uma razão pessoal a seguir
Buzinas vozes gritos e choros compõem tua valsa

Há uma melancolia bem maior ali do que em toda a cidade
Quando teus olhos olham para baixo
Entro em contradição com o universo
Desvio-me da busca por alguma verdade
E me torno vendedora ambulante de vagalumes
Enquanto tuas mãos percorrem o vento
Penso no que resultará tudo aquilo
Alguma leve massa de partículas sorri
E deito de costas pro mundo
São infinitas as possibilidades
As probabilidades
As quedas
Recorro ao passado enquanto lavo os pratos
Se não fosse ele eu estaria sem cor
E lembro que não posso esquecer do passado
Não posso esquecer da dor do passado
Não posso esquecer do peso do passado
Não posso esquecer do cheiro do passado
Não posso esquecer do não nem do sim do passado
Do que o passado me fez passar
Das passadas que dei
Do quanto o passado demorou pra passar
E do quanto foi bom quando passou
A água escorre pelos meus dedos agora imóveis
O passado é bom quando acaba?
Acaba?
Passado o passado a gente sente?
A gente sabe?
Os encaixes que antes pareciam infantis
Tendem agora a ser de uma enferma complexidade
Sentar na velha cadeira
Ver a velha companhia do  salto de olhos fechados
Faz o passado passar mais rápido

Quanto tem que passar 
Enquanto o agora não é passado
Há possibilidade de abraços 

domingo, 25 de setembro de 2016

O adiamento de coisas necessárias
Cria forças a cada explosão de bomba
Por entre os dedos do homem que atravessa a rua
Um pedaço de mundo cai e é pisoteado pela criança que vem atrás
A esperança não tem mais a mesma cor do céu
O amanhã que vinha pendurado na flor de goiabeira
Agora é gerado na ponta dos postes de luzes florescentes
Enquanto minha cidade perde a cor que minha vó me mostrou
O mar avança do outro lado do mundo acabando com ele
A cada piscar de olhos de um poeta outro poeta morre
Depois da explosão de cada bomba
O adiantamento das coisas necessárias cria forças
Ninguém se importa mais porque o cachorro tá latindo
Aprender algo que lhe torne útil é a meta do mês
Num suspiro distraído a gente esquece dos outros
Quem sabe o meu respectivo poeta piscou demasiadamente seus olhos
O mundo ele não cansa nem quando metade de si lhe dá as costas
Me inspiro em passos rasos e em coisas que não tem luz

Talvez assim quando perto da curva não me perca

quarta-feira, 21 de setembro de 2016

queda livre

no caminho que precede
a linha do umbigo
há um talvez
lá esbarramos sem querer
e subimos pra conversar
na ponta da orelha
do destino

num salto pro dedo
intrometido do desejo
vimos a boca sem luz
e com poucas saidas
do medo

queda livre


quarta-feira, 7 de setembro de 2016

I.
(coisa que vou deixar na tua bicicleta)
por consequência poética 
te transcrevo passarinho
as horas dançando parada contigo
são séculos de aflição cancelados
enquanto nossos olhos descansam
somamos toque ao acaso
e há algo sim de encantador
acontecendo no meio do oco